30 anos do “Comício das Diretas Já” em Curitiba e seus personagens

Escrevo o artigo dessa semana na minha coluna do Blog Meandros da Política, por que vejo a necessidade de se fazer justiça e os devidos reconhecimentos históricos aos que de fato foram de fato os artífices da democracia e que atuaram com papel de destaque na preparação, na organização, na convocação e no desenvolvimento em si do histórico comício da campanha pelas “Diretas JÁ”, que aconteceu em Curitiba no dia 12 de Janeiro de 1984.

Marcio Kieller é membro da Comissão Estadual da Verdade.

Marcio Kieller é membro da Comissão Estadual da Verdade.

Nessa data histórica, no palco montado na boca maldita e sob a voz condutora, do radialista e advogado Claudio Ribeiro: Que Bradou alto e em bom tom: “Diretas Já!” acontecia na cidade de Curitiba o primeiro comício oficial da campanha nacional que pedia eleições diretas no País. De Fato o comício impulsionou nacionalmente a campanha. Extraoficialmente tivemos reuniões e agitações em outros lugares antes do comício das diretas em Curitiba, mas como agenda oficial dos partidos políticos que estavam imbuídos da ideia da abertura política imediata com a volta das eleições livres e diretas, foi aqui a primeira iniciativa.

Isso se reveste de importância histórica para nossa cidade, considerada provinciana e conservadora. Afinal o evento da luta pelas diretas começar aqui, e com força popular demonstrou que o golpe civil militar que dominou o Brasil durante o período de 1964 até 1985, quando tivemos a eleição indireta de Tancredo neves e de José Sarney no colégio Eleitoral.

Nomes da política paranaense foram decisivos para construir o sentimento político de que se em Curitiba tínhamos condições de ir para rua levantar a bandeira de que os Curitibanos homens e mulheres queriam votar para presidente, seria sinal que em outros lugares a aceitação política seria facilitada.

O processo como um todo não foi o comício em si. Existiu toda uma preparação, uma organização, uma logística que envolveu inúmeras pessoas para que o comício se realizasse, para que os personagens principais que nacionalmente construíam a viabilidade do voto diretos dos brasileiros pudesse novamente representar o que os indivíduos verdadeiramente queriam.

Entre os interlocutores precisamos fazer justiça com algumas pessoas e movimentos, por exemplo, os movimentos populares eram coordenados e organizados pelo Partido dos Trabalhadores – PT, Partido Democrático Trabalhista – PDT, Os Partidos Comunista do Brasil – PCdoB e do Partido Comunista Brasileiro – PCB que saiam das entranhas Movimento democrático brasileiro – MDB, onde se hospedaram para sobreviver politicamente e é claro o próprio Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB. Além é claro dos movimentos sociais organizados, das Centrais sindicais recém-criadas como a Central Única dos Trabalhadores do Paraná e seus sindicatos, da juventude e de suas entidades estudantis universitárias como UPE, DCE´S, Centros Acadêmicos e também União Paranaense dos Estudantes Secundaristas e suas, entidades municipais de Estudantis com os seus Grêmios estudantis, que vinham de um processo de reorganização e ainda não haviam sido novamente legalizados, mas que na prática nunca deixaram de existir.

Também do ponto vista dos personagens políticas políticos é necessário que façamos justiça aos interlocutores paranaenses como dissemos acima, pois hoje depois de 30 anos desse evento histórico na capital paranaense, ainda alguns políticos fazem referências a quem apresentou o comício das diretas, falam somente do dito locutor oficial das “Diretas Já” em Curitiba, como sendo somente Osmar Santos, famoso locutor esportivo e funcionário de uma grande emissora de televisão. E segundo consta ele teria vindo somente com a função exclusiva de apresentar o então Governador de São Paulo, Franco Montoro, que era uma das mais expressivas lideranças nacionais da campanha das eleições Diretas.

Mas o fato é que não reverencia historicamente a quem deve, segundo depoimentos de pessoas que participaram do comício, e do próprio personagem que todos reconhecem como quem foi de fato o locutor oficial comício das diretas em Curitiba que foi o radialista, advogado, poeta, Claudio Ribeiro, com sua potente voz relativamente rouca e pausada, que encantava a todos no comício com sua narrativa particular e enfática, bradando alto: “Diretas Já!”. Como descreve o próprio Claudio Ribeiro: “Romanelli como secretario do PMDB me fez o convite/intimação para ser o apresentador. O comício, realizado em 12 de janeiro de 1984 na capital paranaense, reuniu cerca de quarenta mil pessoas, sendo chamado de Campanha das Diretas Já. Na época, a maior emissora do Brasil, a TV Globo, não percebendo a importância e as consequências daquele momento histórico, omitiu o fato de que se tratava de um comício pelas eleições diretas. A partir de Curitiba, todos os comícios que assolariam as principais cidades do Brasil, quando recebiam a cobertura da Globo, ouviam a multidão gritar – O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo! –
O movimento, logo assimilado pelo povo brasileiro de norte a sul, foi atraindo mais e mais pessoas às ruas e aos comícios. Durante quatro meses, milhares de pessoas foram às ruas, pedindo para votar para presidente e pelo fim da ditadura que começou a morrer quando bradei na Boca Maldita aqui em Curitiba, ecoando para todo o Brasil: Diretas Já!”

Claudio Ribeiro é, na minha singela opinião, um dos grandes responsáveis pela empolgação das pessoas no comício, pelas palavras de ordem, pelas apresentações das atrações que animaram o evento e pela empolgação impar como apresentou os líderes políticos que discursaram nesse que foi o primeiro comício oficial da campanha por eleições diretas, livres e democráticas em nossa capital.

Tivemos a oportunidade de ouvir as histórias sobre a realização do comício, da organização, da logística do comício em si, do Próprio Claudio Ribeiro, que foi um dos convidados para oitiva pública, durante a realização da Audiência Pública Conjunta da Comissão Estadual da Verdade do Paraná, da Comissão Estadual da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil e da Comissão Da Verdade da Universidade Federal do Paraná, na mesa que coordenamos sob o título de Artífices da democracia.

Para a nós soa estranho que esses movimentos sociais e esses personagens políticos não tenham lugar na história, pois foram fundamentais para que o comício tivesse o sucesso que teve e para que os personagens políticos tivessem o reconhecimento histórico que tiveram. Pois é fundamental que destaquemos que Ulisses Guimarães era de fato o artífice principal, por que capitaneava no Brasil inteiro a iniciativa pela organização dos atos públicos, das reuniões, das assembleias e comício em nome das Diretas, não era sem motivo que ele era nacionalmente conhecido como “Senhor Diretas”.

Igualmente também cabe destacar o papel político jogado pelos ocupantes dos cargos maiores do estado naquele período, José Richa, como governador do Estado e o também reconhecido prefeito de Curitiba Mauricio Fruet, o amigo da esquina como era carinhosamente chamado, o então prefeito há época, ambos pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB. E claro que se os nomes maiores da cidade e do Estado estavam a serviço da construção do movimento a essa grande iniciativa de união nacional em torno de uma proposta que devolveria ao país a tão sonhada democracia, eles também estariam atuando como facilitadores da construção espirito da proposta em todo Paraná e em toda a capital paranaense, para que os ventos soprassem favoráveis ao desenvolvimento do projeto das Eleições Diretas, para que o movimento tivesse como teve aceitação popular na cidade e no Estado. E a prova mais cabal desse apoio que para à época o comício das Diretas levou mais de 40 mil pessoas a Boca Maldita. O que serviu para impulsionar de fato a campanha em outros locais do País.

Aqui durante o comício, Ulisses Guimarães falou citando Caetano Veloso Caetano Veloso: “O que Curitiba aprova, o resto do país delira”, demonstrando a certeza de que como o comício aqui havia sido um sucesso, a campanha pelas “Diretas Já” explodiria como um rastilho de pólvora pelo restante dos Pais.

Há trinta anos, e dois dias exatamente acontecia esse histórico comício em Curitiba e de fato seria o primeiro comício oficial de muitos outros que empolgaram no Brasil inteiro, homens, mulheres, jovens, estudantes, donas de casa, trabalhadoras e trabalhadores, camponeses, índios, enfim todos que vestiram a camisa da campanha cívica pelo direito ao voto, pelo direito a liberdade de expressão, pelo direito a democracia e a participação social na política do Brasil. Infelizmente o objetivo foi alcançado em sua plenitude, mas com certeza as multidões que mobilização o país, foram uma pá de cal nas pretensões políticas de setores conservadores da sociedade civil, militares e políticos sem representatividade de continuar a governar o país por decretos e por um colégio eleitoral ilegítimo.

Parabéns a todos os bravos lutadores que estiveram presentes no histórico comício pela volta das eleições livres, democráticas e soberanas no País, na passagem dos 30 anos de sua realização. Viva A democracia, Viva a participação popular!

Marcio Kieller

Membro da Comissão Estadual da Verdade,Vice Presidente da CUT/Pr e Mestre em sociologia pela UFPR

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