Governo cria clínicas para vítimas da ditadura militar

O governo vai instalar clínicas de apoio psicológico e oferecer tratamento a vítimas da ditadura para que superem traumas gerados pelas violações ocorridas naquele período. A intenção é também dar suporte emocional para que possam prestar depoimento na Comissão da Verdade. O atendimento tem como público-alvo ex-perseguidos políticos, seus familiares e de desaparecidos pelo regime militar. O projeto “Clínicas do Testemunho” é uma iniciativa da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça.

“Sem esse suporte psicológico pode ser traumatizante essa volta ao passado. É um retorno doloroso e que pode desestabilizar. É uma angústia permanente para quem não encontrou até hoje seus entes desaparecidos. Assim como para aquele que passou por torturas. Ficaram marcas muito profundas e não é fácil falar sobre isso”, explicou a psicóloga Vera Vital Brasil, que há vinte anos atende familiares e ex-presos políticos.

O governo lançará o edital esta semana e será aberto para psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e entidades não governamentais que atuem em programas que oferecem esse tipo de atendimento. As clínicas e os serviços deverão funcionar a partir de 2013 e têm um orçamento de R$ 3 milhões. Cada projeto apresentado poderá apresentar custo que varia de R$ 50 mil até R$ 600 mil.

“É uma lacuna no nosso programa de reparação integral dessa pessoa. Já asseguramos a reparação moral, com o pedido de desculpa do Estado no momento da anistia, e a reparação econômica. Mas faltava esse terceiro eixo, que é a reparação psicológica”, afirmou Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia e organizador do programa.

O grupo Tortura Nunca Mais do Rio é precursor nesse tipo de projeto no Brasil. Desde 1991 dispõe do serviço e atende hoje 93 pessoas, sendo que 80% das pessoas são ex-perseguidos ou familiares. O projeto atende também vítimas de hoje da violência do Estado. A psicóloga e ex-presa política Cecilia Coimbra coordena o trabalho.

Cecilia conta que no início do projeto atendia mais a familiares do que os próprios perseguidos pela ditadura, que tinham, e ainda têm, dificuldade de falar desse assunto. “O familiar tem muita necessidade de falar. A tortura produz o silenciamento, produz o esquecimento. E o processo de transformação se dá por meio da fala. É uma dor que está no corpo das pessoas, ainda que invisível. É preciso trabalhar isso e evitar que caiam num processo de vitimização de ser um pobre coitado. O trabalho é mostrar que não somos vítimas, mas sobreviventes”, disse Cecilia, que elogiou a iniciativa do governo.

Fonte- O Globo

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