Comissão Nacional da Verdade recebe no RS documentos do coronel assassinado e faz apelo por entrega de acervos privados

27/11/2012 – Comissão Nacional da Verdade recebe no RS documentos do coronel assassinado e faz apelo por entrega de acervos privados

Claudio Fonteles lamentou que documentos que estavam com coronel só tenham vindo à tona com a sua morte e fez apelo à familiares de militares que entreguem à CNV acervos privados

A Comissão Nacional da Verdade recebeu hoje em Porto Alegre 205 páginas de cópias de documentos entregues à Polícia Civil do Rio Grande do Sul pela filha do ex-coronel Julio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do Doi-Codi no Rio de Janeiro, assassinado dia 1º de novembro na capital gaúcha.

Os documentos se referem ao atentado do Riocentro, em 1981, e há também duas páginas com o termo de entrada do político desaparecido Rubens Paiva na carceragem do Doi-Codi-RJ (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do Rio de Janeiro) , datado de 21 de janeiro de 1971, e que descrevem os objetos apreendidos com ele no ato de sua prisão.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, fez um apelo para que acervos documentais privados sobre graves violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, como o que Molinas Dias guardava em uma caixa em sua casa, sejam entregues à comissão. “Pedimos que filhos e netos, aqueles que têm acesso a estes arquivos particulares os entreguem à CNV. Não é preciso nem se identificar”, afirmou.

Segundo Fonteles, os documentos encontrados com o ex-comandante no Doi-Codi são importantes e que o sobre Rubens Paiva é um dos mais simbólicos, pois comprova a prisão do ex-deputado, desmontando a versão do Estado, que sempre negou a prisão. “A descoberta quebra a brutal farsa do Estado ditatorial que afirmava que Paiva e outros desaparecidos estavam foragidos”, afirmou.

Sobre os documentos do caso Riocentro, Fonteles afirmou que a Comissão deve debruçar-se sobre eles nos próximos dias. “Vamos ler e avaliar tudo. Esses documentos serão o fio condutor do trabalho. A partir das referências que cada documento der: nomes, locais, a CNV definirá suas linhas de investigação”, afirmou.

 

“O fato de terem surgido esses documentos reforça a ideia de que tanto por parte de particulares, quanto por parte de instituições militares, não houve destruição total dos arquivos do período ditatorial”, afirmou Claudio Fonteles.

COOPERAÇÃO – O coordenador interino da Comissão Estadual da Verdade do Rio Grande do Sul, Aramis Nassif, destacou em seu discurso que também espera que mais acervos privados sejam entregues para ambas as comissões.

 

Em almoço oferecido pelo governador Tarso Genro, quatro membros da comissão gaúcha estiveram reunidos com Fonteles: Nassif, Céli Pinto, Oneide Bobsin e Jacques Alfonsin. Os cinco trataram termos da parceria que será firmada em breve pelas duas comissões para facilitar a cooperação entre ambos os colegiados.

 

Em seu discurso durante a entrega dos documentos, no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, Genro disse que o governo do RS cumpriu sua missão legal e constitucional e elogiou a atitude da Polícia Civil. “Em outros tempos, esses documentos poderiam cair em outras mãos. É um sinal dos tempos, que eles estejam com as comissões da verdade agora”, afirmou.

 

Segundo Tarso, os documentos ajudarão na busca por verdade e justiça. “Quem lutou, assumiu publicamente suas posições. Foram perseguidos, presos, torturados, mortos, mas o outro lado da história não está contado e os jovens precisam saber quem torturou, matou, para que o Estado de Direito impere de maneira plena em nossa sociedade”, afirmou.

 

FALTA UM “THE END” – “Como filha de Rubens Paiva, a sensação que tenho é que a história do meu pai é inacabada. De vez em quando se acha um documento ou se descobre alguma coisa nova. A Comissão Nacional da Verdade está aí para isto: para colocar um ‘the end’ em várias histórias”, afirmou Maria Beatriz Paiva Keller, filha de Rubens Paiva, que vive na Suíça e, de visita ao Brasil, foi convidada ao evento pelo governo do Rio Grande do Sul e representar a família Paiva durante a entrega dos documentos à CNV.

 

Ela recebeu uma cópia de um documento emitido pela Turma de Recebimento do Doi-Codi do RJ, datado de 21 de janeiro de 1971, que lista todos os documentos e pertences pessoais arrecadados com o ex-deputado no ato de sua prisão, prova inconteste de que Paiva esteve nas dependências daquele órgão.

 

Fonte: 

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