Comissão de Anistia reconhece direitos de 15 filhos de perseguidos políticos

Quase dez anos longe do Brasil sem a expectativa de retornar a uma vida tranquila e comum. Sílvia Perrone tinha apenas 5 anos quando foi separada do pai, Fernando Perrone, então deputado estadual em São Paulo, que foi perseguido pelo regime militar e teve que deixar a Assembleia Legislativa às pressas e embarcar para o exílio no Chile, onde a família se reencontrou. Depois, nova mudança, para a França.

Cela no antigo DEOPS-SP, hoje o Memorial da Resistência do Museu Estação Pinacoteca, em São Paulo.

Cela no antigo DEOPS-SP, hoje o Memorial da Resistência do Museu Estação Pinacoteca, em São Paulo.

Manifestação de apoio aos torturados pela ditadura militar em frente ao Fórum João Mendes, no dia da audiência da ação impetrada pela família do jornalista Luiz Merlino contra o coronel do Exército Brasileiro Carlos Alberto Ustra. A família ainda aguarda a decisão da justiça para reconher Ustra como torturador durante o regime militar Rodrigo Capote/Folhapress

Na semana passada, Sílvia, que ainda conserva o sotaque francês e as lembranças emocionadas de um período conturbado de sua vida, conseguiu ser anistiada. Há alguns anos, o perdão do Estado e as indenizações financeiras ou reconhecimentos de títulos conquistados em outros países, como diploma de graduação, eram concedidos apenas aos perseguidos políticos. Apenas recentemente, os parentes, principalmente, filhos desses militantes, começaram a ter o reconhecimento das restrições que viveram.

Depois de contar sua história, inclusive a morte de uma de suas irmãs que acabou se envolvendo com drogas depois do fim do exílio, Sílvia ouviu o pedido de desculpas do Estado, proferido por 16 conselheiros que integram a Comissão de Anistia. Quinze outros filhos de perseguidos políticos também foram anistiados no mesmo julgamento, que ocorreu há três dias em Brasília.

Na época da saída do Brasil, Silvia, as duas irmãs e a mãe só conseguiram reencontrar o pais dias depois. A vida da família Perrone se resumiu, a partir daí, a acompanhar de longe a vida no país de origem, que vivia um momento político conturbado. No Chile, os Perrone recebiam notícias de familiares e amigos e recepcionavam outros perseguidos militares que tiveram que deixar o Brasil.

Dois anos depois, a família inteira teve que, novamente, se mudar. Dessa vez, foram para a França, em 1972, quando a situação de militantes brasileiros que lutavam contra o regime militar foi agravada.

“Tenho boas lembranças do Chile. Nossa casa era aberta e recebíamos muitas pessoas e, para a gente, era uma bagunça sempre. Na França, caiu a ficha. Meu pai percebeu que não poderia mais voltar e as coisas ficaram mais difíceis”, disse ela.

Sílvia conta que as notícias de amigos presos e assassinados começaram a chegar com mais frequência e a situação deles em Paris se complicou. “Meu pai era visto como se fosse um monstro. Os brasileiros turistas tinham medo de manter contato com a gente. Tinha polícia secreta em todo lugar”, contou.

Desde 2001, quando a comissão foi criada, 60 mil casos foram julgados. Deste total, 40 mil pessoas receberam o pedido de perdão do Estado, e a maior parte delas ainda foram indenizadas financeiramente pelas perdas e restrições que sofreram no período da ditadura militar.

“É um reconhecimento de anos de restrições. Os danos causados pelo período da ditadura são transgeracionais e são psicológicos, físicos e de restrições de direitos nacionais”, explicou Paulo Abrão, presidente da Comissão. Segundo ele, no primeiro momento dos trabalhos da comissão a situação dos filhos destes perseguidos políticos era ignorada. “Hoje esta é uma questão pacífica”, disse.

Fonte- Agência Brasil

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