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Estrada do Colono

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Peritos escavam o local onde foram assassinados os militantes da VPR, ainda não encontrados. Foto: Aluízio Palmar

A morte de seis integrantes da VPR, em 1974, sendo eles Daniel José de Carvalho, Enrique Ernesto Ruggia, Joel José De Carvalho, José Lavecchia, Onofre Pinto e Vitor Carlos Ramos, constitui um dos episódios mais recobertos de incertezas e mistério, até hoje, entre todos os casos de mortes e desaparecimentos registrados no período ditatorial. A organização clandestina à qual pertenciam os militantes, a VPR – Vanguarda Popular Revolucionária, praticamente já não existia mais no Brasil, tendo sido desmobilizada no início de 1973.

Decididos a retornar do exílio para combater o regime militar, esses militantes entraram clandestinamente no território nacional, pela região de Foz do Iguaçu, em julho de 1974. Quatro deles tinham sido banidos entre 1969 e 1971: Onofre, Lavecchia, Daniel e Joel. Foram atraídos para uma cilada e executados na região conhecida como Estrada do Colono (PR), no interior da mata do Parque Nacional do Iguaçu.

Algumas luzes sobre esse misterioso episódio só começaram a surgir em 2005, quando Aluízio Palmar lançou o livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, reconstituindo, ao final de quase três décadas de investigação, os últimos passos das seis vítimas. Aluízio, jornalista que militou no primeiro MR-8 e na VPR, esteve preso no Paraná e foi banido do Brasil no sequestro do embaixador suíço, em 1971. Ele foi um dos convidados por Alberi (infiltrado) para retornar. Ao declinar do convite e sobreviver, dedicou-se mapa estrada do colonoexaustivamente a descobrir o destino dos companheiros. Morador de Foz do Iguaçu após seu retorno ao Brasil, recebeu em 2001 informações sobre um possível local de sepultamento dos militantes, o que levou a CEMDP – Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos a organizar uma busca em Nova Aurora, no Oeste do Paraná, a cargo dos técnicos da Equipe Argentina de Antropologia Forense.

Aluízio Palmar conseguiu descobrir o agente policial que trabalhou junto com Alberi e que participou diretamente dessa operação de infiltração. Desempenhando o papel de motorista e usando o nome fictício de Otávio Camargo, esse agente foi encarregado de buscar o grupo que saíra de Buenos Aires no dia 11 de julho, levando-o para o sítio de Niquinho Leite, parente de Alberi que não tinha conhecimento do que iria suceder. Pelo contrário, segundo revela Aluízio, Niquinho achava que estava contribuindo com os Revolucionários. O sítio fica em Boa Vista do Capanema, onde o grupo chegou no dia 12 de julho.

Alberi tinha convencido o grupo de que a melhor entrada para o Brasil seria uma base de apoio em Santo Antônio do Sudoeste (PR). Chegando ao sítio, os viajantes descansaram da viagem de mais de 24 horas. Longe de ser uma base de apoio, o local e o plano eram uma armadilha para eliminar o grupo. “O sítio não era da VPR; Niquinho era um inocente útil usado pelo sobrinho (Alberi); Otávio, um membro do Centro de Inteligência do Exército; e Alberi, o ‘cachorro’ que estava levando-os para uma armadilha… Durante a viagem, desde que saíram de Buenos Aires, os exilados foram monitorados por agentes do CIE (Centro de Informações do Exército)”.

 

 Estrada do Colono, km 6, atual município de Serranópolis do Iguaçu.

 

Estada do Colono

 


 

 

Saiba mais:

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  2. Audiência em Foz apurará crimes na Região Oeste
  3. CNV e Comissão do Paraná realizam audiência pública conjunta em Foz do Iguaçu
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  5. Comissão Nacional da Verdade investiga a repressão no Paraná
  6. Estrada do Colono: Em nota, CNV se manifesta contra proposta de reabertura
  7. Audiência pública debaterá a Chacina do Parque Nacional do Iguaçu
  8. Documentação argentina comprova desaparecimento de brasileiros durante a ditadura

 


 

 

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