Fragmentos da ditadura: “A Operação Radar (1973-1976): a dizimação de lideranças do PCB”

folha_w75117

“132. Segundo o ex-agente do DOI do II Exército, a organização tinha em curso uma operação chamada Radar, que objetivava localizar e desarticular a infraestrutura do jornal Voz Operária em todo o território nacional. A operação, que estava parada, foi retomada no final de 1973 pelo DOI de São Paulo, em colaboração com outros DOIs e com o CIE, desencadeando prisões e perseguições por todo o Brasil, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Nestes últimos estados, as operações foram batizadas de Marumbi e Barriga Verde, como aconteceu também em outras regiões do país. Dessa vez, o DOI-CODI
do II Exército visava também a eliminação de alguns dirigentes do PCB. Falava-se que “muitos deles já haviam sido presos – alguns mais de uma vez – e, mesmo assim, se revelaram insensíveis às punições aplicadas”.  Documento confidencial do CISA, agência Rio de Janeiro, de 1975, mostra a colaboração entre os centros de informação e a abrangência nacional da investida da repressão contra o PCB: “Remetemos, para conhecimento, cópia xerox do relatório do inquérito policial, realizado pelo DOPS/SP, que apurou atividades do Partido Comunista Brasileiro, indiciando 105 militantes”. p.643

Voz-Oper-600x835-280x365

 


 

“131. Dessa vez, a investida sobre o PCB foi sistemática e direcionada. Documento confidencial da 2ª Seção do II Exército, de março de 1975, com o assunto “Neutralização do PCB”, lista o nome de oito dirigentes cujas prisões seriam de grande impacto para a atuação do partido:

  • Giocondo Gerbasi Alves Dias (…).
  • Hércules Correia dos Reis (…).
  • Orlando da Silva Rosa Bonfim Junior (…).
  • Jaime Amorim de Miranda (…).
  • Aristeu Nogueira Campos (…).
  • Renato de Oliveira Mota (…).
  • Elson Costa (…).
  • Hiram de Lima Pereira (…).

 

declarao ix congresso

20140401carloa-marighella

Carlos Marighella

 

Clara Charf

Clara Charf

 

“Além de parte do Comitê Central, também foram alvos da repressão as gráficas do jornal do partido, Voz Operária.” p.642

A-Classe-Operaria-1975-600x843


 

 

“133. … Clandestina, a solução dada pelos executores da Operação Radar foi o desaparecimento forçado dos corpos, após sessões de torturas e execuções sumárias. A operação foi comandada pelo chefe do DOI do II Exército, o tenente-coronel Audir dos Santos Maciel, em colaboração com oficiais do CIE, como os majores Paulo Malhães e José Brant Teixeira. Como se fazia no combate a grupos armados, formou-se um grupo secreto do qual participavam delegados do DOPS, como José Francisco Setta e Alcides Singillo. Foram usadas chácaras clandestinas para facilitar o desaparecimento forçado dos corpos.” p. 643

IO DA MANHAa

 


 

 

“144… Marival Chaves afirma que, depois da invasão da gráfica do jornal Voz Operária, Montenegro recebeu do partido 60 mil dólares para recuperar uma estrutura de impressão para o jornal. Uma equipe do DOI-CODI prendeu Montenegro, matou-o com a injeção de matar cavalos e depois foi à sua casa pegar os dólares. O dinheiro foi rateado pela cúpula do DOI-CODI.” p.646

 


 

 

“155. Com a reabertura do Congresso Nacional, o líder da oposição na Câmara, deputado Alencar Furtado, do Paraná, da ala dos Autênticos do MDB, fez um contundente discurso contra a ditadura, em 27 de junho de 1977, fazendo referência direta aos desaparecidos políticos:

 

É insuportável, mais de uma década de arbítrio.

O governo, fugindo da democracia, procura perpetuar-se no poder […]

O terror tornou-se árbitro do sistema. […]

O que queremos?

A inviolabilidade dos direitos da pessoa humana,

para que não haja lares em pranto, filhos órfãos de pais vivos, quem sabe mortos, talvez;

órfãos do talvez ou do quem sabe.

Para que não haja esposas que enviúvem com maridos vivos, quem sabe mortos, talvez;

viúvas do talvez ou do quem sabe.

 

Geisel teve que acionar o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 1968, para cassar o mandato de Alencar Furtado e suspender por dez anos seus direitos políticos.

A cassação, naquela época, era uma medalha de honra no peito da gente!”, disse Furtado, ao se referir ao episódio.” p.648

g_0812a-0710

Trechos extraídos do Volume I do Relatório Final da CNV, página 642, 643, 646 e 648.

Link permanente para este artigo: https://forumverdade.ufpr.br/blog/2015/07/20/fragmentos-da-ditadura-a-operacao-radar-1973-1976-a-dizimacao-de-liderancas-do-pcb/