Projeto Cantos da Resistência – pela preservação da memória, contra o esquecimento

Annete Scotti Rabelo

Annete Scotti Rabelo

 

Fonte: Projeto Cantos da Resistência 

Cantos da Resistência – Pela preservação da memória, contra o esquecimento.

Convidamos você e seus amigos para viabilizar este projeto que pretende incluir na memória das lutas sociais dos anos 1960-1970 uma experiência até agora pouco considerada: a produção musical feita para impulsionar o trabalho educativo e político. Trata-se de canções elaboradas por participantes do MEB* (Movimento de Educação de Base), em Goiás e por militantes da AP* (Ação Popular), nos trabalhos políticos realizados em Goiás, Maranhão e Bahia.

 

Nossa intenção é ajudar a construir uma memória das lutas sociais do período, valorizando práticas políticas que se pautavam pelo paciente trabalho de conquista dos “corações e mentes” das pessoas, utilizando, dentre outros, os recursos da cultura popular.

 

Numa sociedade cada vez mais violenta, cada vez menos propensa à discussão de alternativas políticas a longo prazo, vale a pena resgatar experiências que apostavam na luta coletiva, no debate de ideias, na transformação dos sujeitos e das estruturas. Nossa nossa maior preocupação é que essas canções, bem como o trabalho político-pedagógico a elas referenciado, não caiam no esquecimento.

 

O tempo histórico dessa produção musical é marcado pela intensa discussão política sobre o futuro de nosso país, sobre caminhos para conseguir as tão desejadas mudanças, especialmente nos primeiros anos da década de 1960. Parte da produção cultural em várias áreas – cinema, teatro, música, literatura, dentre outros – trazia um forte conteúdo crítico sobre a sociedade brasileira e denúncias de suas principais mazelas: a fome, a miséria, a exploração desenfreada do trabalho e da vida das pessoas.

 

Mas esse tempo é marcado, também, pelo golpe de março de 1964 e seus desdobramentos, uma ditadura civil-militar que tratou de impedir a discussão dos projetos políticos e a escolha democrática do que fosse mais adequado para a maioria dos brasileiros. O regime militar impôs mudanças nos rumos da política, nos projetos em discussão, na vida das pessoas, enfim. A repressão obrigou os grupos políticos a atuarem na clandestinidade e qualquer ação de resistência passou a constituir um risco enorme, sujeitando seus autores à prisão, tortura e morte.

 

 

O projeto “CANTOS DA RESISTÊNCIA” contém:

  • 1 CD com 20 músicas inéditas, criadas por militantes do MEB e da AP , nos trabalhos políticos realizados em Goiás, Maranhão e Bahia, nas décadas de 1960-1970.
  • 1 livreto com textos sobre o MEB, a Ação Popular, os autores e contextos das músicas; lista de mortos e desaparecidos da AP; bibliografia e vídeos.
  • Registro das partituras na FUNARTE/Biblioteca Nacional. O registro das canções será feito em bloco, sob o título “Cantos da Resistência”.

 

 

POR QUE RESOLVEMOS FAZER ESSE PROJETO?

– Antes de tudo, para que essas canções não sejam esquecidas, com toda a carga de vivências e experiências políticas que evocam. Esperamos que funcionem como uma janela que, aberta, proporcione um olhar mais humano e solidário para uma geração que discutiu e lutou intensamente por um Brasil mais justo e mais igual.

– Também achamos importante compartilhar textos e vídeos sobre o MEB e a AP, de modo a proporcionar acesso a diferentes registros históricos, como teses acadêmicas, narrativas de memória, ensaios e outros.

– Para reafirmar que vários militantes da Ação Popular foram mortos sob tortura ou em decorrência delas; outros foram simplesmente assassinados no ato da prisão e outros ainda nunca tiveram sua prisão assumida pela repressão, continuando sob a condição de desaparecidos, como ocorre com o ex-presidente da UNE e dirigente da AP, Honestino Monteiro Guimarães.

– Por fim, para incentivar pesquisas similares em outras regiões, bem como estimular os militantes a registrarem suas experiências, para que a sua participação no processo histórico não seja esquecida!

 

 

Atenção:

Os colaboradores de São Paulo receberão o CD + livreto no dia 17 de outubro de 2015, no Memorial da Resistência, das 10.00 às 16.00 horas. Na oportunidade, haverá apresentação musical e autógrafos dos artistas presentes. O evento constará da programação Sábados Resistentes.

Endereço: Largo General Osório, 66 São Paulo (SP).

Os doadores de outros estados receberão o material pelo Correio. As despesas de remessa estão incluídas no orçamento.

Pessoal, desde já agradecemos a colaboração de todas e todos. Faça parte desta história!

Realize a sua doação e envie este projeto para a sua lista de amigos.

Assista a Annete cantando uma das músicas do projeto, em vídeo colaborativo realizado pelo pessoal do Coletivo Digital.

 

OS AUTORES DAS CANÇÕES

Das 20 músicas a serem gravadas, nove são de Elisabeth Hermano, a Betinha (in memorian, 08/12/2009). São canções marcadas por acentuado lirismo, esperança e luta por um mundo melhor. Foram compostas como expressão artística e política dos trabalhos realizados entre 1960-1963, principalmente na JUC (Juventude Universitária Católica), CPC (Centro Popular de Cultura) e MEB. Uma dessas canções, destinada a motivar os camponeses a se alfabetizarem, foi escolhida para prefixo do programa radiofônico do MEB de Goiás. Está incluída no CD do Projeto.

Sete músicas, inclusive o Xote do arroz, mostrado no vídeo, são autoria de Odilon Pinto Mesquita. Algumas trazem forte denúncia da miséria e das difíceis condições de vida nas regiões onde Odilon desenvolveu trabalho político, Maranhão e Bahia. Há, também, canções que se dirigem aos próprios militantes, instruindo-os sobre valores e práticas revolucionárias. O Xote do arroz foi criado nos anos 70, quando Odilon participou das lutas dos camponeses do Vale do Pindaré (MA), juntamente com Manuel da Conceição, Osvaldo Rocha e outros militantes da Ação Popular.

Os irmãos Moreira Coelho – José e Parcival – são autores de três músicas, uma delas em parceria com Maria Alice Brandão. Eram camponeses, participaram do MEB como monitores e militaram na Ação Popular, nos anos 1960. Suas composições trazem a marca da música sertaneja goiana. Alice Brandão era coordenadora do MEB de Goiás.

Apenas uma das músicas não foi composta por militantes do bloco MEB/AP. A Canção do Cárcere era um hino entoado pelos presos políticos da penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. Cantavam sempre que chegava um companheiro, de qualquer organização, muitas vezes após sessões de tortura. Ou quando alguém partia – para a liberdade ou para outra prisão. Seu autor, Dirceu Régis, é poeta e também esteve preso na Lemos de Brito. Quem passou por essa prisão nos tempos da ditadura certamente a conhece, o que justifica sua inserção no CD, para que não seja esquecida.

 

OS INTÉRPRETES

Por várias décadas as canções da Betinha, do Odilon e dos irmãos Coelho mantiveram-se vivas nos encontros informais dos participantes da equipe do MEB de Goiás e dos militantes da Ação Popular, com a partilha dos registros, voz e violão, em um processo de memória coletiva. E seguiram compartilhando em festas de família e encontros com amigos, ampliando, assim, a divulgação da maioria delas. Na bela voz da Annete Scotti Rabelo essas canções adquirem um encanto especial e foi ouvindo-a cantar que surgiu a ideia de perpetuar essa memória.

As músicas do MEB serão interpretadas por alguns participantes desse movimento em Goiás: Alda B. Cunha, José e Parcival Moreira Coelho, Maria Alice Brandão, Nazira F. Elias, Wellington Cortes, dentre outros.

Como será gasto o recurso arrecadado com a sua colaboração?

Orçamento

 

 

 


 

* O Movimento de Educação de Base (MEB) surgiu em 1961, a partir de um convênio entre a CNBB (Igreja Católica) e Estado, visando a alfabetização de trabalhadores rurais, inspirado nas escolas radiofônicas da Colômbia. A conscientização, a politização, a valorização e reconhecimento do saber dos participantes – alunos, monitores e comunidades – eram suporte do MEB em seu processo educativo, construindo um significativo e original projeto político-pedagógico de participação popular, nos anos 60.

 


 

* A Ação Popular (AP) foi uma organização política que, entre os anos 1962-1975, reuniu profissionais liberais, estudantes, operários e camponeses, dentre outros, com o objetivo de discutir um projeto político democrático-popular (mais tarde socialista) para o Brasil. Com o golpe civil-militar de 1964 a organização incorporou a luta contra a ditadura como condição fundamental para continuar a desenvolver o seu projeto político, uma vez que a ditadura cerceou e proibiu toda e qualquer atividade política baseada na liberdade de expressão, organização e manifestação.

 


 

Quer saber mais sobre o MEB? http://www.pucsp.br/cedic/fundos/movimento_de_educacao.html

Quer saber mais sobre a AP? http://www.pucsp.br/cedic/colecoes/acao_popular.html

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