EUA “lamentam tanto quanto as vítimas” o apoio dado aos ditadores sul-americanos

Um alto representante do governo dos EUA “lamenta” o apoio de parcelas do estado norte-americanos aos ditadores do Cone Sul nos anos 60 e 70 e alerta que leis de anistia não podem proteger aos autores de torturas. A declaração é do embaixador americano Stephen RappREPRESSAO MILITAR CONTRA ESTUDANTES. 25/07/1968FOTO: MILTON/AE, chefe do Escritório de Justiça Criminal Global do Departamento de Estado e escolhido para o cargo pelo presidente Barack Obama.

Nesta semana, um grupo de militares brasileiros emitiu uma carta em que alertavam que não haveria um pedido de desculpas por parte do “Exército de Caxias”. “Salvamos o Brasil”, conclui a carta assinada por mais de 20 ex-militares.

Questionado por este blog se a onda de investigações na América do Sul representava algum problema para o governo americano diante das acusações do envolvimento de Washington em golpes, o embaixador foi categórico. “De forma alguma”. “Lamentamos tanto quanto as vítimas”, declarou Rapp, que ocupa o cargo desde 2009. Dezenas de documentos secretos publicados pela administração americana nos últimos anos revelaram o apoio dado – em diferentes níveis – por Washington a golpes de estado no Cone Sul.

Antes de assumir o papel de percorrer o mundo e avaliar casos de crimes na Síria, Iraque ou Ucrânia, Rapp foi o procurador do tribunal de Crimes em Serra Leoa, liderou o processo contra o ex-presidente da Libéria, Charles Taylor, e participou do tribunal internacional sobre Ruanda.

Segundo ele, o eventual apoio que certos regimes receberam de parte da administração americana respeitavam uma “lógica da Guerra Fria”. Mas o embaixador admitiu que, hoje, Washington defende abertamente que os processos de revisitar o passado seja realizado no Brasil e nos demais países da região. “Isso ajuda que feridas sejam curadas”, declarou Rapp.

“Existem estudos que apontam que, em países onde houve uma avaliação do passado, as taxas de violência são menores”, indicou o embaixador. “É importante que os países investiguem o que aconteceu e que levem os responsáveis aos tribunais”, defendeu.

Para ele, apenas promover o trabalho de Comissões da Verdade “não é suficiente”. “Casos precisam ser julgados”, insistiu. Rapp, porém, alertou que não se trata de processar cada um dos soldados ou membros de um governo autoritário. Mas “priorizar” aqueles que tinham cargos de responsabilidade e que determinavam as ações.

O embaixador americano também defendeu que os responsáveis pelos crimes como tortura e morte não sejam protegidos por leis de Anistia. “A lei de anistia deve ser mantida para crimes políticos. Mas não para a tortura”, completou.

Fonte- O Estado de S.Paulo

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